O primeiro medicamento biológico similar com autorização para ser produzido no Brasil funciona no controle da artrite reumatoide. É uma vitória para a população com essa doença por conta do alto custo do remédio original. Entenda a diferença entre os biossimilares e os genéricos.
A vida de Priscila Torres, de 35 anos, modificou-se por completo por volta dos 24 anos. Nessa idade, a auxiliar de enfermagem começou a sentir dores em todas as articulações, inclusive nos dedos. Pensou serem heranças do cansaço e da rotina. “Eu trabalhava em uma unidade de transplantes de medula óssea do SUS e comecei a ter dificuldades para fazer coisas simples, como segurar objetos. Um dia, perdi um material importante e isso acabou levando a um transtorno enorme”, relembra ela, que mora em Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo.
Descobriu, então, que não podia mais ignorar o fato de ter uma doença, que poderia ser grave, e resolveu procurar ajuda. Antes disso, porém, se automedicava. “Tomava remédios contra as dores e elas não passavam”, conta Priscila. Após a ida a vários médicos e a realização de alguns exames, descobriu ter uma doença rara e crônica: artrite reumatoide, que acomete 0,5% a 1% da população mundial. No Brasil, a estimativa é que dois milhões de pessoas sejam afetadas.
Por ser uma doença crônica – portanto, sem cura até o momento – a medicação para o tratamento de Priscila deve ser tomada para o resto da vida. Pelo alto custo, os remédios são fornecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A esperança de baixar preço pode estar nos biomedicamentos similares. No entanto, diferente dos genéricos, eles não são idênticos às drogas originais.
O primeiro similar
“Não são idênticos, porque o processo de fabricação é diferente. São feitos a partir de outras proteínas que geram a mesma substância e possuem o mesmo efeito no tratamento que os medicamentos originais”, informa o médico Ricardo Garcia, pesquisador na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e membro-fundador do Centro Latino-americano de Pesquisa em Biológico (Clapbio). A produção do primeiro biomedicamento similar foi autorizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em outubro do ano passado. O laboratório Celltrion, empresa fundada na Coreia do Sul, recebeu o aval para a fabricação do biossimilar do infliximabe, para o tratamento da artrite reumatoide. No mundo, países da Europa, como a Dinamarca, já têm o aval de suas agências de regulação para fabricação do biomedicamento.
A vantagem está na possibilidade de baixar o preço do remédio biológico. O valor da droga original passa dos mil reais. Entretanto, é preciso cuidado. Os efeitos colaterais e reações adversas variam conforme a matriz usada pelo fabricante, por mais que resulte na mesma substância.
“É comum as pessoas alternarem entre o genérico e o original. No biomedicamento similiar, isso não vai ser possível”, aponta Ricardo Garcia, explicando que a troca deve ser feita somente com autorização médica, inclusive entre o biomedicamento original e o similar. “É necessário ao laboratório realizar todos os testes com os biossimilares, com cada laboratório”, esclarece o médico.
É preciso, portanto, saber a diferença entre os medicamentos genéricos e os biomedicamentos similares.
* A jornalista viajou a convite da AbbVie Farmacêutica
Fonte: 26/04/16 - O Povo – Ceará por Angélica Feitosa