Indicado originalmente para pessoas que sofrem de narcolepsia e distúrbios de sono, o modafinil passou a ser usado por soldados e estudantes universitários porque aumenta o poder de concentração e sensação de "alerta".
Muitos estudantes nas universidades de Cambridge, Oxford e Harvard já testaram e aprovaram. Agora é a vez de um estudo apontar que o modafinil (também vendido como Provigil) melhora a concentração, a atenção e a capacidade de aprender, sem deixar sequelas como dependência química.
O que o modafinil faz é atuar nas funções cognitivas do cérebro humano. A droga age diretamente na chamada “inteligência fluida”, que usamos para solucionar problemas e pensar de maneira mais criativa.
Assim como aconteceu com o Viagra, desenvolvido inicialmente para tratar a circulação sanguínea, o modafinil não nasceu com a tarefa de substituir o café forte nas madrugadas dos estudantes. O remédio deveria impedir que pessoas com narcolepsia caíssem no sono e depois foi adaptado para que soldados pudessem ficar acordados durante a noite. Gradativamente, notou-se que além de melhorar a vigília, havia outros efeitos “interessantes”, como aumento do poder de concentração. Para alunos com tendência a se distrair facilmente, foi visto como a solução para a temporada de exames ou para a finalização de teses e mestrados.
O modafinil vem sendo usado dessa forma há algum tempo. Uma enquete realizada em 2008 com leitores da Nature indicou que quase metade admitia já ter usado o remédio para aumentar sua capacidade cognitiva.
Ainda que vendido sob prescrição médica nos Estados Unidos e no Reino Unido, vários estudantes relatam que é relativamente fácil comprar o medicamento. É possível comprar variações em sites online, sob o nome de Provigil, Modalert e Modapro.
O estudo, publicado no European Neuropsychopharmacology, considerou 24 pesquisas realizadas entre 1990 e 2014. O remédio foi dado a pacientes saudáveis, que não tinham passado horas sem dormir.
O que o novo estudo não revela, porém, é quais são os efeitos colaterais em médio prazo. Estudos anteriores com outras substâncias alardeadas como “smart drugs” (“drogas inteligentes”) perderam efeito em curto tempo. Em pessoas muito criativas, chegou-se a observar uma queda de rendimento, mas nada consistente que poderia passar de observação no estudo.
Barbara Sahakian, uma especialista em neuropsicologia na Universidade de Cambridge, vem pesquisando extensivamente os efeitos do modafinil. “Muitos estudantes podem se sentir pressionados a tomar o remédio antes de fazer seus exames finais – mesmo que acreditem que isso é errado. Em situações competitivas, como conseguir uma vaga, eu me pergunto se não seria o caso de banir essa droga, da mesma forma que é feito em esportes".
João Fabiano, que estudou o efeito de cafeína para as funções cognitivas e é pesquisador na Universidade de Oxford, afirmou que o modafinil deveria ser encarado da mesma maneira que a cafeína. E que seus efeitos vão muito além de melhorar o humor e criar a sensação de estar alerta, sem o risco de dependência.
É importante lembrar, porém, que o estudo não é decisivo. Outros medicamentos chegaram a ser apontados como solução para problemas – para se tornarem mais tarde “vilões”. Demorou para que os médicos se dessem conta que o Vicodin, prescrito para dores intensas, era capaz de viciar o paciente – como aconteceu com a atriz Jamie Lee Curtis, o ator Matthew Perry e o rapper Eminem.
Fonte: Revista Época Negócios