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O resveratrol amenizou deficiências motoras em ratos mais velhos após ser consumido durante um mês. Os pesquisadores tentam agora desenvolver um componente que possa ser prescrito para humanos.
“Por mais raro que seja, ou mais antigo, só um vinho é deveras excelente. Aquele que tu bebes, docemente, com teu mais velho e silencioso amigo”. O poema de Mário Quintana, poeta gaúcho, remete aos encantos sociais de uma das bebidas mais consumidas no mundo. Mas os benefícios não param por aí. Pesquisadores têm anunciado nos últimos anos os ganhos medicinais do consumo de vinho, que se transformou desde um amigo do coração a um inibidor do envelhecimento. Um novo estudo, porém, chama a atenção pelo caráter aparentemente antagônico. A bebida alcóolica tem uma substância que pode ser usada na prevenção de quedas entre idosos.
Trata-se do resveratrol, também conhecido como a “molécula do milagre”, encontrado no vinho tinto. Os cientistas da Universidade Duquesne, de Pittsburgh, dos Estados Unidos, chegaram a esse efeito benéfico da substância após experimentos feitos com ratos de laboratório, que retomaram o equilíbrio em um mês (veja arte). A descoberta pode ajudar no desenvolvimento de produtos naturais capazes de ajudar homens e mulheres idosos a viverem de uma forma mais saudável e produtiva, acreditam os pesquisadores envolvidos no estudo. “Com a população com mais de 65 anos aumentando, a incidência de problemas relativos à idade também vai crescer. Atualmente, existem poucos tratamentos terapêuticos relacionados às deficiências motoras entre a população mais velha”, comenta Jane Cavanaugh, líder do time de pesquisadores.
Para examinar os efeitos do resveratrol nas funções motoras dos ratos, os pesquisadores alimentaram os animais com a substância durante oito semanas. As cobaias atravessavam um percurso com algumas curvas e tinham o desempenho avaliado. O número de vezes que cada rato idoso dava um passo em falso ou escorregava era contado pelos cientistas. Inicialmente, os bichos com mais tempo de vida tiveram uma dificuldade maior em driblar os obstáculos. Mas, na quarta semana de dieta com resveratrol, os problemas de equilíbrio diminuíram.
“Nosso estudo sugere que um componente natural, como o resveratrol, que pode ser obtido por suplementos ou pela própria dieta, pode ajudar a abaixar os níveis de deficiência motora que foram vistos na população mais velha. Isso poderia aumentar a qualidade de vida da terceira idade e diminuir o número de hospitalizações relacionadas às quedas e às escorregadas”, avalia Cavanaugh.
A pesquisadora alerta, porém, que o resveratrol não é absorvido totalmente pelo corpo. O cientista calcula que uma pessoa de 70kg deveria tomar quase 700 taças de vinho tinto por dia para absorver a quantidade suficiente da substância que traria algum tipo de benefício ao corpo. A concentração de resveratrol no vinho varia de 1,3 a 7 mg/l. O time de pesquisa da Universidade Duqesne investiga componentes similares, feitos por cientistas, que imitem os efeitos do resveratrol e sejam mais aceitáveis pelo organismo.
Moderação
Autor do livro A saúde da água para o vinho, Márcio Bontempo, médico ortomolecular e nutrólogo, avalia que o vinho tem vários componentes benéficos ao corpo. “O vinho, se bem utilizado, funciona como fator de prevenção de diversas moléstias, principalmente as doenças coronarianas, a aterosclerose, o câncer, o enfarte, a pressão alta e muitos outros problemas, sendo capaz de reduzir o processo de envelhecimento e ativar as funções cerebrais”, enumera. “As pessoas que envelhecem tomando vinho regularmente, moderadamente e durante as refeições envelhecem com melhor qualidade de vida, apresentando QI (quociente de inteligência) mais elevado, maior capacidade de atenção e memorização, melhor capacidade de comunicação e melhor humor”, completa.
A sommelier Daniella Romano alerta que o álcool presente no vinho é fundamental para os benefícios previstos. “O vinho não deve ser consumido em excesso porque, sendo uma bebida alcóolica, faz mal quando tomado em muitas doses. Mas sem o álcool, a bebida vira um suco de uva, sem os benefícios que tem pela adição de substâncias.”
Para saber mais
Mais de 600 mortes em 2010
Uma pesquisa feita pelo Ministério da Saúde (MS) divulgada no começo desta semana no Blog da saúde, feito pelo órgão, indica que, em 2010, 667 pessoas com mais de 60 anos morreram em consequência de quedas dentro de casa, principalmente no banheiro. O ministério trabalha com a estimativa de que 30% dos idosos do país sofrerão pelo menos uma queda por ano. Em pessoas com mais de 85 anos, a porcentagem chega a 51%. Os fatores que colaboram para as quedas estão relacionados a alterações fisiológicas do organismo, como a limitação da visão, da audição, da postura, do equilíbrio e da locomoção. Fora de casa, o trânsito e as calçadas malconservadas representam os principais perigos para quem chegou à terceira idade.
Fonte: CORREIO BRASILIENSE – DF
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